18 de out. de 2014

Destinatário


Sempre achei engraçado demais a maneira e a frequência com que você perguntava se os meus textos eram para você. Mas eu negava, como se eu estivesse ocupada o suficiente para não fazer este favor: tirar o nó que você tinha na garganta. Eu negava, porque de todos os textos eternizados e de todas as lágrimas cristalizadas, eu queria que a gente perdurasse mais que tudo; Mais que os textos, mais que as lágrimas. Porque eu sempre pensei sobre como você me acharia fácil demais, estregue demais, acessível demais. Aí você iria embora e voltaria quando fosse conveniente… E eu não queria isso. Eu queria que ao menos, aquele texto triste, só servisse de recordação… Só para demonstrar que o amor tem lá suas fraquezas, desavenças, friezas, deficiências e problemas. Eu queria, mais que tudo, que você não se orgulhasse por receber um texto, mas sim por ter me conquistado como bem maior. E eu te olhava com um sorriso de orelha à orelha, dizendo que nada a ver, que coisa sem cabimento, que coisa sem fundamento e sem precisão. Desviava o assunto: E aí, como foi seu dia?, e você tornava a perguntar se o texto era para você, e eu terminar com um “não” e um ponto bem gordo e enfático depois dele. Nos dias que se seguiram, lá íamos brigar e ter um estresse semanal. E a gente ficava sem se falar por horas, dias… E era neste período de tempo que eu mais escrevia: sobre quão cafajeste, sem coração, desumano, orgulhoso, imaturo, idiota e passivo. Eu te odiava por horas, por dias. Mas você, previsível, vinha com a maior cara de pau, perguntando se aquela pilhas, aquele monte - até as folhas amassadas no lixo - se elas foram feitas para você. E eu, mais esgotada da gente, respondia: Mas é claro que não! Você acha mesmo que meu tempo é destinado somente a você? Você acha que durante esse tempo que nós estivemos longe um do outro eu tive tempo para pensar no nosso romance pra lá de desequilibrado? Mas é claro, óbvio, nítido que não. E eu, mais que achava engraçada a sua maneira chata e incessante de perguntar se foi feito para você, achava mais engraçado ainda a minha maneira tola de negar que era para você. Mas agora, com todas as palavras ditas, com tudo feito, encho a boca para falar que sim, todos os textos eram para você. Desde aquele que você não concordou, até aquele que você se sentiu traído. E eu dizia: Ah, para! É só um texto. Desde os pequenos aos mais extensos e sentimentalistas… Tudo, tudo era seu! Até eu. Mas sabe o verdadeiro motivo para eu achar graça de tamanha tolice vindo de você? Não era em si o fato de você perguntar, mas sim a sua falta de raciocínio e percepção: se meus textos não são para você, para quem serão?
Alugue Felicidade.

4 comentários:

  1. Adorei velho, sério lembrei de mim como se fosse essa que nega que os textos sejam para ele. O jeito que em que foi escrito , melhor o modo como as palavras foram postas sendo por fim todas juntas uma completa reflexão nos fazendo perceber que o dom de escrever,nem todos nos temos.

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    1. Bom, escrever pode e não pode ser um dom, escrever para mim é um sentimento, você coloca no papel o que você está sentindo, posso dizer que é meio que um desabafo, você desabafa para sí mesmo escrevendo, qualquer pessoa pode escrever, existe varias formas, aquelas pessoais e outras abertas, quem nunca teve um diario, não é? Sei lá, eu penso assim, haha, beijos linda <3.

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    2. Poder ser que não seja um dom, mas pra mim é como ler, muitos sabem ler porém não sabem pronunciar de tal forma a vim emocionarmos.Então é como escrever, todos escrevem mais nem todos tem essa capacidade de nos fazer refletir, chorar sla nos causas grandes emoções. Bjss

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  2. Me senti como ela, que negava, todos aqueles momentos nos quais ele e perguntava se eram pra ele, ri feito boba, meus olhos encheram-se de lágrimas, e eu ri sozinha ao ler o finalzinho, " se meus textos não são para você, para quem serão?".

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